Acerte os buracos do cinto


 O consultor Nelson Bruxellas Beltrame ministrou um curso no IGEA sobre como reduzir custos industriais. Nessa entrevista, ele relata os principais erros que as empresas cometem na hora de enxugar
 Onde estão hoje as maiores perdas das empresas automotivas?
Acredito que as maiores perdas vem do fato de que a maioria não compreende com clareza o mercado em que atua. Vivemos uma verdadeira revolução de meios e conceitos, que alteram constantemente ambiente operacional e que exigem uma enorme capacidade de reação. As montadoras – as orientadoras deste processo – caminham para um rápido processo de terceirização de suas linhas de montagem, orientando sua atenção para atividades como desenvolvimento, divulgação, distribuição e financiamento de seus produtos. Geralmente, essas são mais rentáveis do que a fabricação. Este redirecionamento também é resultado de um processo de redução de custos ou, sob outra óptica, de uma orientação de investimentos em atividades que foram maior retorno sobre seu capital aplicado. A manufatura, portanto não é mais totalmente um diferencial no processo automotivo, Para vencer estes novos tempos, as empresas terão de aprender a trabalhar em equipe, elaborando associações com outras empresas antes consideradas concorrentes. Outro importante fator que provoca perdas é a má qualidade da comunicação. Não raro as informações se perdem pelo caminho. Isso pode causar estragos pelo simples fato da área de contabilidade trabalhar com uma informação incompleta ou imprecisa. Ao ministrar cursos, também cheguei a uma triste constatação: muitos empresários ainda aguardam a “volta dos bons tempos”, imaginando que a atual situação seja algo passageiro e que, amanhã, as coisas voltarão a ser como antes. Agindo desta forma, tomam decisões paliativas ou simplesmente restritivas, fato que acaba por acarretar situações ainda piores. Devemos encarar a problemática de redução de custos como uma “nova atividade” inserida as boas praticas operacionais. Não é um mais um modismo e sim uma nova forma de atuação corporativa.
Quais os maiores erros que as companhias cometem ao implantar programas de redução de custo?
Os maiores erros encontrados em implantações de sistemas de redução de custos são:
  • Inicio de um processo sem uma mensuração precisa da real necessidade de recursos a ser reduzidos. Ou seja, “reduzir por reduzir”.
  • Confundir os conceitos de custos e despesas. Custos estão ligados diretamente aos processos de manufatura e conformação de bens e serviços, já as despesas dão suporte aos mesmo. Seus processos de redução são diferentes, pois tem enfoques diferentes.
  • Iniciar o processo de redução cortando mão-de-obra (direta e indireta). Os empregados necessitam ser preservados até a ultima instancia, pois são as pessoas que farão os processos de redução se concretizarem. Pessoas inseguras e sobrecarregadas de atividades rendem abaixo da media e erram com freqüência.
  • Executar o processo de redução sem um meio de controle do que esta sendo reduzido. Geralmente, orçamentos mal elaborados não evidenciam as oportunidades de controle em tempo real e com precisão de detalhes.
  • Não elaborar uma abordagem critica sobre os “Sistemas de Custeio” e as possíveis conseqüências de critérios de rateios elevando o valor de atividades realizadas.
  • Confundir “redução de custos” com “cortar gastos”. Redução de Custos é ação de caráter definitivo e cortar gastos é ação de caratês emergencial.
  • Menosprezar as idéias geradas por colaboradores da base operacional. São eles quem mais conhecem os meios e processos.
  • Não encarar a incorporação de atividades de redução de custos como uma cultura a ser implementada em caráter definitivo e perseverante.

O que pode ser feito para combater esse gasto com as perdas? È preciso gastar dinheiro para depois economizar?
Se partirmos da ótica de que a redução de custos e uma conseqüência da melhoria do processo organizacional, podemos também entender que a mudança do processo poderá gerar uma redução de custos. Não se trata, portanto, de reduzir os custos com o que fazemos e, sim, mudar a forma de como fazemos ou desempenhamos nossas atividades.
Sempre há possibilidades de cortar custos? Como não fazer isso de forma desordenada e sem abalar o andamento das operações tampouco a harmonia entre funcionários?
Devemos sempre estudar e analisar os impactos que uma alteração ou mudança pode causar na organização. Os custos e despesas também não devem ser colocados no mesmo saco. Podemos reduzir um custo ou despesa para adiante gastar o dobro. Um bom exemplo são as conseqüências caudadas pelo corte nos dispêndios com qualidade, manutenção ou bem estar dos colaboradores. Plante ventos e colha tempestades!
Pela sua experiência como palestrante, quais são as duvidas mais freqüentes?
“Existe alguma formula mágica para reduzir custos?” Essa é a pergunta mais freqüente. A maioria procura uma panacéia para seus problemas. Poucos já se conscientizaram de que, na origem dos processos de redução de custos, houve uma queda na rentabilidade do segmento automotivo.

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